Close no medo
Tudo na televisão fica muito grande. A telinha amplia o tamanho, realça as cores, destaca as tragédias coletivas e pessoais. Para fazer rir, o humor apela para os extremos: o pobre é engraçado na sua simplicidade exacerbada, o rico é sofisticado e intolerante, o gay é frívolo e está sempre caçando parceiros.
Exatamente por tudo ser grande é que comoveu demais o choro da adolescente dizendo que ia escapar. Na entrevista para a televisão, ela repetiu a frase várias vezes, talvez para convencer a si própria. Pode ser que escape do tráfico, da disputa pelo controle do tráfico na Rocinha. Dos horrores e pavores, duvido muito.
Enquanto lia seus poemas infantis, quase oração desesperada, caiu no choro apenas pela presença de viaturas policiais na rua abaixo de sua moradia. “Ai, meu Deus. Vai começar de novo” – murmurou a celebridade anônima instantânea. Close nas mãos se retorcendo. Fecha no caderno com a letra tremida de medo.
Clarões riscam o céu, os bandidos conversam pelo rádio, os policiais correm de um lado para outro. Aonde vão, nem eles sabem. A audiencia sobe no país inteiro, a policia sobe o morro, a tensão sobe. A menina desce ao inferno do medo, do abandono das autoridades, do estrelato involuntário do momento. Vai escapar?


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